Embraer E-99M – Detalhes da Modernização

Por Sérgio Santana*
Há alguns poucos dias, na manhã de 16 de agosto, o FAB 6703 (uma das duas aeronaves de alerta antecipado e controle aerotransportado Embraer E-99 ora em processo de modernização para o padrão E-99M, a outra sendo o FAB 6702) decolou para o seu primeiro voo, no âmbito da campanha de ensaios para a certificação do modelo, em um projeto que teve as primeiras verbas aprovadas em 2013.
O E-99 entrou em operação oficial na Força Aérea Brasileira (FAB) em julho de 2002, então sendo designado R-99A (denominação que foi alterada para E-99 em outubro de 2008), com todos os cinco exemplares (FAB 6700 a 6704) tendo sido entregues até o ano seguinte, com as aeronaves desde então sendo intensamente empregadas em missões de alerta antecipado e controle aerotransportado, designadas CAV (Controle e Alerta em Voo) pela FAB.
Após tantos anos de operação, o esforço de modernização dos E-99, portanto, se faz necessário, ainda mais considerando que a eletrônica (a razão de ser deste tipo de aeronave) evolui e se torna rapidamente obsoleta, o que explica as constantes atualizações dos sistemas de missão de aeronaves com a mesma função, como os Boeing E-3 Sentry.
Cabe ressaltar, entretanto, que antes mesmo deste voo recente, o FAB 6702 foi empregado durante a Copa do Mundo de 2014, mesmo que as modificações não tivessem sido instaladas em sua totalidade.
E-99 em modernização na Embraer
O E-99M entra em cena
Ainda existem poucos detalhes sobre as modificações a serem incorporadas, mas comparado com o E-99, o E-99M será uma aeronave radicalmente modificada em muitos aspectos, a começar pelo principal sensor de missão.
Embora continue sendo o PS-890 Erieye, cuja antena proporciona os mesmos 300 graus de cobertura hoje disponíveis ao E-99, o modelo instalado no E-99M é uma versão do radar Erieye-ER que equipa o Saab Global Eye, já descrito pelo Poder Aéreo, mas adaptada aos requerimentos operacionais da FAB, como aliás já foi o caso com o Erieye operado pelo E-99.
De acordo com publicações do fabricante, antes limitado a alvos aéreos e navais, o novo radar agora será capaz também de detectar alvos terrestres, com o limite mínimo de velocidade de alvos nas três arenas (aérea, naval e terrestre) sendo inferior a 108km/h, o limite mínimo do Erieye no E-99. A gama de alvos que podem ser detectados agora vai de embarcações e aeronaves de grande porte a motos náuticas, botes de borracha e veículos, além de helicópteros em voo pairado. O alcance de detecção também foi consideravelmente aumentado, passando para 723km, um dos mais elevados dentre os disponíveis a todos os modelos de aeronaves de AEW&C.
Cobertura do radar Erieye original. O do E-99M foi aumentado para 723 km
Outros requisitos operacionais para o E-99M incluem a incorporação de um novo conjunto de comunicações, novo sistema de identificação amigo/inimigo (IFF, Identification Friend or Foe), de uma suíte inteligência de sinais e outra de auto-defesa.
Já é de conhecimento público que os rádios empregados em cada um E-99 – cinco Rohde & Schwarz SECOS 400U, complementados por 3 controles remotos GB406S1 – serão substituídos no E-99M por modelos do mesmo fabricante, mas dentro da filosofia Rádio Definido por Software, que proporciona níveis superiores de atualização e vida útil quando comparados aos modelos tradicionais, além da capacidade de sintonizar qualquer banda de frequência.
Também de acordo com notícias amplamente divulgadas pela mídia especializada, o E-99M terá como equipamento IFF o dispositivo Thales TSC 2030, que atua na frequência 1090 +/- 0.5 MHz e modos 1, 2, 3/A, C, S nível 3, 4 Criptografado e 5 nível 2, podendo ser operado em temperaturas entre -40°C a +71°C e a até 70.000 pés de altitude.
Entretanto, as suítes de inteligência eletrônica (ELINT, responsáveis por efetuar missões de Inteligência de Comunicações, COMINT, e de sinais, SIGINT) e de autodefesa (Self Protection Suite, conhecida genericamente como SPS), responsáveis pelas protuberâncias na fuselagem e na empenagem do E-99M quando seu primeiro voo e inexistentes no E-99, permanecem envoltas em segredo quanto aos modelos escolhidos.
Sabe-se apenas, através de documentos oficiais tornados públicos, que serão da empresa israelense Elbit, representada no Brasil pela AEL Sistemas S.A. Embora um dispositivo ELINT (fabricado pela empresa L3 Systems, subsidiária da Raytheon, que venceu a concorrência como principal contratada para o projeto SIVAM) já exista no E-99, ele é reconhecidamente limitado, tanto nas frequências que é capaz de cobrir quanto na capacidade de localizar geograficamente a emissão dos sinais, ainda que tenha sido de fundamental importância na “Operação Ayacucho” que em 2003 detectou as comunicações por celular efetuadas por guerrilheiros do grupo terrorista peruano Sendero Luminoso que mantinham reféns brasileiros na Selva Amazônica.
Por outro lado, a incorporação de um SPS alçará o E-99M ao nível dos derivados gregos (EMB-145H) e indianos (EMB-145I) que já possuem este tipo de equipamento, e será composto por um detector de alerta radar (alertando a sua tripulação da ativação de radares contra a aeronave) e contramedidas como dispensadores de chaff e flare, o que é extremamente desejável para uma aeronave que opera em um ambiente amazônico, no qual vez por outra surgem notícias de apreensão de mísseis ar-ar de curto alcance, cujo sistema de guiagem é baseado na emissão de radiação infravermelha oriunda do alvo.
Para gerenciar as novas capacidades foi decidido aumentar de três para cinco a quantidade de operadores, como nos já mencionados EMB-145H e EMB-145I. Os novos tripulantes terão à sua disposição monitores de tela plana em substituição aos três antigos conjuntos de monitores do tipo CRT fabricados pela Barco (cada conjunto com um monitor MPRD 9651 de 19.5 polegadas e dois MPRT 126 de 10.4 polegadas).
Espera-se que todos os cinco E-99 tenham sido convertidos para o novo padrão até 2022.

*Bacharel em Ciências Aeronáuticas (Universidade do Sul de Santa Catarina – UNISUL). Pesquisador do Núcleo de Estudos Sociedade, Segurança e Cidadania (NESC-UNISUL). Pós-graduando em Engenharia de Manutenção Aeronáutica (Pontifícia Universidade Católica de Minas Gerais – PUC/MG). Autor de livros sobre aeronaves de Inteligência/Vigilância/Reconhecimento. Único colaborador brasileiro regular da Shephard Media, referência em Inteligência de Defesa.

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