O Alerta Nuclear nas Forças Aéreas da OTAN


F-15E Strike Eagle lançando bomba nuclear B61 de exercício

Por Sérgio Santana*
Assim como na VKS-RF, a Força Aeroespacial da Federação Russa, as forças mais importantes da OTAN também dispõem da capacidade de ataque nuclear.
Contudo, ao contrário do que ocorre com o seu adversário político-militar, a aliança ocidental está restrita apenas ao ataque nuclear tático, seja pela própria natureza das armas que possui, seja pelo alcance/autonomia dos seus vetores.
As bombas nucleares guiadas NNSA/Boeing B61-12
A B61-12 será a primeira versão da bomba B61 equipada com kit de guiagem.
O desenvolvimento de design começou em 2008, e dois anos depois a Revisão da Postura Nuclear decidiu prosseguir com o projeto. Em 2016, a Administração Nacional de Segurança Nuclear (National Nuclear Security Administration) autorizou a engenharia de produção, a fase final de desenvolvimento antes da produção da arma, agora definida para começar no presente ano.
O programa B61-12, na verdade, consiste em dois componentes: o conjunto da bomba e o conjunto do kit de cauda guiada. A NNSA é responsável pela montagem da bomba, incluindo a ogiva, controle de uso e montagem, e a Força Aérea dos EUA é responsável pela montagem do kit de cauda guiada (fabricado pela Boeing) que permite que a bomba seja empregada com maior precisão do que as atuais bombas de gravidade. Suas características exatas são segredo militar, mas sabe-se que não usa GPS e sim um sistema protegido contra a radiação nuclear, com precisão de 30 metros de acordo com testes efetuados em 2015.
A sua potência pode ser ajustada entre 0.3 a 50 quilotons e será compatível com as seguintes aeronaves: Boeing F-15E Strike Eagle, Lockheed Martin F-16 Fighting Falcon e F-35A Lightning II, PANAVIA Tornado PA-200, Northrop Grumman B-2A Spirit e B-21 Raider.
Está previsto que 480 unidades da nova arma sejam produzidas a partir de 2020, substituindo os modelos anteriores e mesmo as B83, mais potentes.

Bomba nuclear B61 e seus componentes
Bomba nuclear B61 e seus componentes

Localização e composição dos arsenais nucleares da OTAN

Alemanha

Panavia Tornado PA-200 da Luftwaffe

A Força Aérea alemã usa o Tornado PA-200 na missão de ataque nuclear sendo operado pela 33ª Ala de Caça na Base Aérea de Büchel. A Luftwaffe possui a guarda de 10 a 20 bombas nucleares B61-3/4 em 11 abrigos subterrâneos dentro dos hangares das aeronaves, conhecidos como “Weapons Security and Storage System” (Sistema de Segurança e Armazenamento de Armas), ou simplesmente “WS3”.
Bélgica
Para a missão de ataque nuclear, a Força Aérea belga usa o Lockheed Martin F-16A/B Fighting Falcon na missão de ataque nuclear da OTAN. As aeronaves integram o 31º Esquadrão da 10ª Ala de Caças Táticos na Base Aérea de Kleine Brogel. Há na base de 10 a 20 bombas B61-3/4, estocadas da mesma forma que na Luftwaffe em 11 abrigos subterrâneos dentro dos hangares das aeronaves.
Estados Unidos
A Força Aérea dos Estados Unidos emprega o Boeing F-15E Strike Eagle para as missões de ataque nuclear no contexto da OTAN. As aeronaves compõem o 492° Esquadrão de Caças da 48ª Ala de Caças Táticos, estacionada na Base Aérea de Lakenheath, no Reino Unido. Os Strike Eagle detém a maior quantidade de bombas B61-3/4/10 estocadas em abrigos “WS3”: nada menos que 110 unidades.
Holanda
A Força Aérea Holandesa também usa os F-16A/Bs do 312º esquadrão da 1ª Ala de Caças, na Base Aérea de Volkel na missão de ataque nuclear da OTAN. Como na Bélgica e Alemanha há de 10 a 20 bombas B61-3/4 em Volkel. Os vôos de integração da B61-12 com o F-16 estão em andamento há vários anos.

Panavia Tornado PA-200 italiano
Panavia Tornado PA-200 italiano

Itália
Assim como a Luftwaffe, a Força Aérea Italiana (Aeronautica Militare Italiana, AMI) também usa o Tornado PA-200 na missão de ataque nuclear da OTAN. Os PA-200 com certificação nuclear fazem parte da 6ª Ala (“Stormo”), estacionada na Base Aérea de Ghedi, no norte da Itália. Esta base também armazena a mesma quantidade de bombas B61-3/4, estocadas de maneira igual ao já descrito nas Bases Aéreas de Büchel e Kleine Brogel   bombas nucleares em 11 galerias subterrâneas dentro de abrigos de aeronaves de proteção. O programa de integração da B61-12 nos Tornados italianos começaram em 2016.
Turquia
A Turquia representa um caso à parte dentre os países da OTAN cujas Forças Aéreas estão encarregadas de ataque nuclear.
Ao contrário dos outros quatro países do programa de compartilhamento de armamento nuclear da OTAN, a Turquia não opera uma unidade aérea com capacidade nuclear ativa equipada com armas nucleares norte-americanas EUA. Existem armas nucleares apenas na Base Aérea de Incirlik, que é considerada uma Base Aérea da USAF.
Entretanto, até 1996, os Estados Unidos estocavam bombas nucleares nas Bases Aéreas de Akinci e Balikesir para uso dos F-16 turcos. Mas naquele ano as duas unidades da Força Aérea dos EUA que mantinham a custódia das armas foram retiradas do serviço ativo, e as 40 bombas B61 foram transferidas para a Base Aérea de Incirlik.
No final de 2000, esses artefatos ainda estavam à disposição para uso de aeronaves turcas. Mas em 2005 foram retiradas de serviço ativo, deixando até 50 bombas B61-3/4 em Incirlik para uso por aeronaves da USAF (estocadas da mesma maneira que nos países já mencionados), embora os F-16 turcos ainda estejam equipados para o emprego de tais armas, mesmo não podendo ser ativados em um curto espaço de tempo.

Bombas nucleares B61 estocadas
Bombas nucleares B61 estocadas

Prontidão das aeronaves da OTAN em missão nuclear
Considerando, como demonstrado, a pequena quantidade de aeronaves configuradas para o ataque nuclear na OTAN e o seu recorrente emprego em missões convencionais, como a de policiamento aéreo na área do Mar Báltico, tem prejudicado enormemente a capacidade de pronto emprego de tais aeronaves caso uma missão de ataque nuclear seja autorizada, ao ponto de colocar o seu status de prontidão nuclear em no mínimo 30 dias, embora a capacidade de atuação da força seja testada anualmente através do exercício “Steadfast Noon”.

F-16 com bomba nuclear B61
F-16 com bomba nuclear B61

Autorização de Emprego das Armas Nucleares da OTAN
A decisão de iniciar o uso de uma arma nuclear disponível para a OTAN fica com o presidente dos EUA ou o primeiro-ministro britânico. Se uma decisão for tomada no sentido de empregar uma bomba B61 a partir de uma aeronave de uma das Forças Aéreas da OTAN, a autorização deve vir de duas fontes: do presidente dos Estados Unidos e do país ao qual a aeronave pertence. Os demais membros também são consultados, assim como o Conselho do Atlântico Norte e a França (que não faz parte do Grupo de Planejamento Nuclear, sendo uma potência nuclear aliada à parte, embora integre a OTAN).


*Bacharel em Ciências Aeronáuticas (Universidade do Sul de Santa Catarina – UNISUL), pesquisador do Núcleo de Estudos Sociedade, Segurança e Cidadania (NESC-UNISUL) e pós-graduando em Engenharia de Manutenção Aeronáutica (Pontifícia Universidade Católica de Minas Gerais – PUC/MG). Único colaborador brasileiro regular das publicações Air Forces Monthly, Combat Aircraft e Aviation News.

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